quarta-feira, 18 de maio de 2011

Deborah Colker estreia novo espetáculo no Theatro Municipal do Rio de Janeiro

‘Tatyana’ é baseado na obra de Aleksandr Púchkin

Deborah Colker foi buscar inspiração para seu novo espetáculo em um grande clássico da literatura universal. ‘Tatyana’ é baseado em ‘Evguêni Oniéguin’, o romance em versos publicado em 1832 por Aleksandr Púchkin (1799-1837). Depois de uma celebrada estreia no Festival de Curitiba, a Companhia de Dança Deborah Colker traz o espetáculo para uma curta temporada no Theatro Municipal do Rio de Janeiro, de 25 a 29 de maio.
Em dois atos, a coreografia leva ao palco o próprio Púchkin interagindo com as ações, desejos, pensamentos e transformações psicológicas dos quatro protagonistas de sua obra-prima. A música de compositores como Rachmaninov, Tchaikovsky, Stravinsky e Prokofiev embala esta jornada atemporal ao âmago de uma história de duelos, desencontros, paixões e decepções.
O mulato (seu trisavô materno era filho de um príncipe africano) Aleksandr Púchkin é considerado o pai da literatura russa moderna. Escrito ao longo de sete anos, entre 1823 e 1830, ‘Evguêni Oniéguin’ é sua obra mais original e importante, que inspirou diversas criações em outras áreas, da célebre ópera de Tchaikovski (1879) ao filme com Ralph Fiennes (1999), passando pelo balé de John Cranko.

A trama é aparentemente simples: Oniéguin é um jovem abastado, cosmopolita e entediado, que abandona as diversões da cidade grande para se refugiar na propriedade rural herdada do tio. Lá, conhece o jovem poeta Lenski, noivo de Olga Lárina, a cuja irmã mais velha, a contemplativa Tatyana, é apresentado. Seguem-se a declaração de amor da moça, sua rejeição por Oniéguin, um duelo fatal entre os amigos e um doloroso reencontro do casal, quando o passar dos anos operou neles transformações profundas e decisivas.

Para expressar a força poética e a magia do romance, a Companhia de Dança Deborah Colker leva ao palco o próprio Púchkin, interagindo com as ações, desejos, pensamentos e modificações dos quatro protagonistas de sua obra-prima. Trata-se, afinal, de um espetáculo de balé contemporâneo, interessado antes em traduzir sentimentos do que em traduzir uma narrativa.

Embora o livro tenha sido escrito e ambientado na Rússia do começo do século XIX, uma das razões de seu perene vigor e atualidade é transcender as barreiras de tempo e espaço - virtude que é reforçada neste espetáculo. Assim, não veremos no palco os estereótipos russos das balalaicas e matriochkas: o cenário, assinado por Gringo Cardia, é constituído de uma grande árvore metálica, em torno da qual e em cujos ramos Púchkin e seus personagens desenvolvem seus sonhos, angústias e quereres.

Tampouco os figurinos pertencem a este ou aquele local ou período, servindo para caracterizar inequivocamente cada personagem com uma mistura de elementos ‘atuais’ e ‘de época’. E, analogamente, a trilha sonora, embora seja marcada pela predominância de compositores russos, faz coexistirem autores de diversos períodos, do romantismo de Tchaikovski ao modernismo de Stravinski - e as partituras desses grandes mestres do passado, por seu turno, passa pelo filtro contemporâneo das colagens e remixagens de Berna Ceppas.

Desse cruzamento de linguagens, estéticas e referências, baseado em um estudo aprofundado da obra-prima de Púchkin, surgiu um espetáculo vibrante e atual, que enfrenta o desafio de exprimir sem palavras o sublime contido nos versos de um clássico da literatura.


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